João Carlos M. Madail

Sem liberdades fundamentais, Venezuela pretende entrar no Brics

João Carlos M. Madail
Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
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O Brics, aliança econômica entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foi criado com o objetivo de promover medidas de crescimento econômico e desenvolvimento socioeconômico sustentável entre os países emergentes. A idéia surgiu em 2001, em estudo do economista britânico Jim O'Neill, do Goldman Sachs, intitulado "Building better global economic", reunindo países considerados emergentes, com características semelhantes, com alto potencial de chegarem a 50% do Produto Interno Bruto mundial até o ano 2050 e rivalizar com os países desenvolvidos.

Sobre o ingresso da Venezuela no grupo, sabe-se que o país tem as maiores reservas de petróleo do mundo, com 300,9 bilhões de barris, de acordo com dados da CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, o que lhe permite ser considerado um país exportador. Além do petróleo, a Venezuela também se beneficia com uma boa localização geográfica para a exportação de carvão, ouro, madeira, além de terras férteis para a produção agrícola. Com todos estes recursos naturais abundantes, o país não tem um setor público bem projetado e eficiente para administrar esses recursos, o que enfraquece a economia.

A atual crise econômica que vive o país está diretamente ligada com a desvalorização, a partir de 2014, do petróleo no mercado internacional. Riqueza da qual os venezuelanos são extremamente dependentes. Além do mais, o país, a partir de 2017, começou a sofrer uma série de sanções econômicas lideradas pelo governo americano do então presidente Donald Trump em represália ao autoritarismo de Nicolás Maduro. Sanções essas que agravaram a situação econômica e forçaram o país a reduzir a quantidade de petróleo exportada.

A atual crise econômica da Venezuela transformou-se na maior crise da sua história econômica. Afora a redução do valor do barril de petróleo, a ineficiência do governo e as sanções americanas os levaram à situação de pobreza. O país é carente de itens básicos como medicamentos, alimentos e papel higiênico, difíceis de serem encontrados nos supermercados e, quando o são, seus preços são exorbitantes. Enfim, o momento é desesperador, com alta inflação, pobreza extrema, PIB em queda e salário mínimo em torno de R$ 80, o que obrigou mais de três milhões de venezuelanos a deixarem o país. O cenário da Venezuela é resultado da crise política que iniciou no governo de Hugo Chaves com tentativas de golpe em 2002, seguido por Maduro na implantação do autoritarismo, onde tropas coordenam execuções de pessoas que se manifestam contra o governo.

Diante de tudo que tem acontecido no país vizinho, o governo brasileiro tentou convencer a todos, em discurso recente, de que a democracia anda bem na Venezuela ao receber Maduro com todas as honras de um grande presidente, afirmando que o Brasil quer retomar a relação nas transações econômicas e em defesa da Venezuela no ingresso no Brics. Segundo Maduro, em recente discurso, "a Venezuela quer fazer parte do Brics e o país está se transformando em atração dos que buscam paz e cooperação". Com a esperança de integrar o grupo, com o apoio de Lula, Maduro declarou que "o grupo representa a construção de uma nova geopolítica mundial".

A grande questão não discutida, que merecerá atenção política especial, é: como o Brasil, historicamente pró-Estados Unidos e anti-Maduro, atuará dentro do Brics, que é anti-Estados Unidos e pró-Venezuela? Integrantes do Brics convivem no grupo com nações que se posicionam de modo oposto ao cenário internacional em temas que são sensíveis aos governos de direita do Brasil. De todas as nações do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, só cinco reconhecem o ditador Nicolás Maduro como presidente legítimo da Venezuela.

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